Artigo: O ano que não terminou

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Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna

Há a máxima de que o ano só começa após o término do Carnaval, todavia este ano a Festa de Momo não foi realizada legalmente. Digo isto, porque existiram aqueles que de maneira clandestina e irresponsável realizaram sua folia. Seja esta aglomerando-se nas praias ou mesmo em espaços reduzidos e lotados como realizara o ignóbil cantor Belo. Caso você tenha cometido tamanha atrocidade, sinta-se parte deste rebanho e lave-se em desculpas ou espere uma próxima reencarnação (se acredita) para tentar se limpar dessa falta absurda de altruísmo; estamos vivendo tempos difíceis, porém há aqueles que insistem em desvalorizar os seus semelhantes.

Parece que 2020 não acabou. Tenho a sensação que os meses de janeiro e fevereiro fazem parte do ano anterior. Falo isso pelas perdas de vidas que ainda acontecem aos montes. Inúmeros amigos, parentes; outros, nomes que não representam quantidade, mas uma família que se desestrutura. É difícil retornar para a sala de aula e saber que ainda não fomos vacinados, que podemos ser infectados a qualquer momento mesmo que os protocolos de higienização e uso dos EPIs sejam cumpridos com todo zelo. É lamentável ler que professores foram denominados como vagabundos em um ano, cujo trabalho fora hercúleo. Aqueles que latem contra, estão entorpecidos pela fumaça inebriante, cujo cachimbo do Executivo está sendo partilhado. A estultice predomina. Urdir motiva suas parcerias. O Brasil tornou-se um lugar raivoso, o antipalavras ou palavras porcamente utilizadas. Onde os argumentos deixaram as redações e deram lugar octógonos e contragolpes. Parece que 2020 não acabou. Mesmo com a chegada da vacina, que por aqui caminha a contar gotas, pois a logística estabelecida pelo Ministério da Saúde não seguiu uma lógica, ou seja, não houve planejamento, assim como tudo que acontece neste Desgoverno Federal. Como diria o genial Belchior: “…ainda somos os mesmos”. E o ano passado tentaram nos ludibriar com o tal do “novo normal”. Algo que não aconteceu, pois continuamos anormais. A busca, como já escrevi em artigos anteriores, é pelo normal.

Acreditei que depois que assistisse a todas as retrospectivas da tevê, teria uma passagem de ano identificada e datada, porém a enumeração das retrospectivas e procura de datas que não de colidissem foi em vão. Achei que a virada de ano, sem a tradicional queima de fogos, seria a divisão exata entre 2020 e 2021. Não foi. Parece que algo ficou ausente. Não sei. Mesmo lendo Drummond e sua bela composição “Receita de Ano Novo”, continuo desejando que 2020 termine. Que as mortes se encerrem, que o sofrimento de famílias acabe, e que possamos continuar nossa trajetória em busca do normal. A realidade é dura. A frieza humana atinge graus sibéricos. Nos jornais o número de pessoas que perderam suas vidas vítimas da Covid-19 só cresce. Lamenta-se, mas pouco é realizado para que os números diminuam. Profissionais da Saúde lutam, são personagens reais de uma trajetória épica. Seres humanos que abdicaram de suas vidas pessoais para se dedicarem ao próximo. Mas o que fazer quando lhes faltam o essencial? O básico para exercerem suas profissões com dignidade? Eles lutam. Sucumbem. Lutam de novo. Esse é o espírito de Hipócrates. Eles vão além.

Parece que estamos andando com o nosso veículo na reserva, todos estão chegando ao seu limite, no entanto não é hora para soltarmos as rédeas da situação, já que as mãos (e não é por causa da pandemia) há muito não nos damos. Estamos próximos de um novo ano, talvez. A mudança deverá acontecer ou estaremos fadados a sofrimentos reais devido ao nosso individualismo. Lutemos para que este ano de 2020 acabe.

gio

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos assinados não representam a opinião de O Defensor!

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